Um dos acontecimentos mais importantes relatados nos últimos dias, tanto pela Open Source Information (OSINT) quanto pela mídia estatal, foi a confirmação de que o cruzador nuclear Admiral Nakhimov retornou ao mar como parte de seu programa de modernização. A atualização sobre o status da embarcação, um gigante de deslocamento de 28.000 toneladas pertencente ao Projeto 1144, não é pouca coisa, visto que estava fora de serviço desde o final da década de 1990. No entanto, o início dos testes de navegação, bem como os testes de outros sistemas instalados na embarcação, também levantaram uma série de questionamentos, bem como certezas, sobre o escopo dessa atualização.

A esse respeito, deve-se notar que tanto o Admiral Ushakov quanto o Admiral Lazarev não estão mais em serviço, e seu desmantelamento e descarte de materiais radioativos estão sendo programados, com as complexidades que isso representa, dada a presença de reatores nucleares. Enquanto isso, o Pyotr Velikiy, o outro navio sobrevivente da classe Kirov, deverá ser desativado pela Marinha Russa em breve.
Voltando à situação atual do Admiral Nakhimov, como observado, o navio não navegava desde pelo menos 1997, quando foi registrado como tendo entrado nas instalações da Sevmash, localizadas na cidade de Severodvinsk, às margens do Mar Branco. Entretanto, os trabalhos de manutenção, restauração e modernização só começariam em 2014, estendendo-se por mais de uma década até o início dos recentes testes no mar.

Com foco no programa de modernização Nakhimov, que não é isento de complexidades — mesmo para estaleiros ocidentais, basta mencionar o contratorpedeiro Tipo 45 HMS Daring, da Marinha Real Britânica, que está fora de serviço há pelo menos 3.000 dias como parte dos esforços e do programa de regeneração — um de seus principais objetivos era a expansão significativa de seu sistema de lançamento vertical de mísseis, que teria um total de 174 tubos ou células para acomodar uma variedade de mísseis antiaéreos e antissuperfície.
Em comparação, os 174 tubos de lançamento do Nakhimov superam em número seus equivalentes ocidentais e chineses atualmente em serviço. Para enfatizar isso, os contratorpedeiros Tipo 55 possuem um sistema VLS de 112 células, enquanto os contratorpedeiros Arleigh Burke Flight III e Zumwalt da Marinha dos EUA possuem 96 e 80, respectivamente. Nesse sentido, e para efeito de comparação, os cruzadores Ticonderoga, que estão sendo progressivamente desativados, têm 122 células.
Este núcleo de melhorias, complementado por outros sistemas de sensores e armas defensivas, permite que o cruzador nuclear seja designado como pertencente à classe do Projeto 1144.2M. Assim, das 174 células, 78 abrigariam alguns dos mísseis de cruzeiro e hipersônicos mais modernos utilizados pela Marinha Russa, como o subsônico Kalibr, o supersônico Oniks e o hipersônico Zircon; este último tendo, até o momento, as fragatas modernizadas Admiral Gorshkov como sua única plataforma de lançamento naval.
As 96 células restantes, por sua vez, seriam utilizadas para toda a gama de sistemas de mísseis antiaéreos. Isso representa a primeira grande incerteza em relação ao programa de modernização do Nakhimov, visto que os relatos variam amplamente e não há relatório oficial ou confirmação visual do tipo de míssil utilizado. Algumas fontes indicam que ele seria equipado com mísseis S-300FM Fort — uma versão derivada do sistema antiaéreo terrestre S-300 — enquanto outras indicam a integração de uma nova variante do moderno sistema S-400, o que permitiria que o navio fosse equipado com capacidade antibalística.


Em termos de certeza, as imagens capturadas nos últimos dias revelam a presença de novos sistemas de defesa de ponto, a variante naval do sistema Pantsir-M. Além disso, a substituição do sistema de canhão de cano duplo AK-130 de 130 mm, que remonta à era soviética, pelo mais moderno AK-192M do mesmo calibre, tem sido notável.
Também são dignas de nota as preocupações em torno da instalação dos novos sistemas de radar, sensores, controle de tiro e gerenciamento de combate que supostamente foram incorporados, embora não seja possível verificar definitivamente quais mudanças foram feitas nesses sistemas.

Finalmente, com a reativação dos motores nucleares que o impulsionam, o Nakhimov e sua tripulação deram um passo importante na recuperação de capacidades de combate relevantes para a Marinha Russa, que estaria desenvolvendo um plano para descomissionar vários de seus mais importantes navios de combate de superfície, a fim de concentrar seus esforços na modernização de suas frotas de submarinos balísticos e de ataque, bem como de plataformas de superfície mais avançadas e versáteis. Este último se refere ao possível descomissionamento do porta-aviões Almirante Kuznetsov e do Pyotr Velikiy, tornando o Nakhimov o maior cruzador de sua classe e o único cruzador com propulsão nuclear em serviço no mundo.
*Créditos da foto a quem possa interessar.
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