Militares se irritam com Lula
Daniel Pereira
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem pela 9ª vez, em seis meses de apagão aéreo, resolver a crise "estrutural" no setor de aviação civil. O acordo selado pelo governo com os amotinados, que gerou enorme indignação entre os oficiais da Aeronáutica, acabou com a greve dos controladores, mas não com o calvário dos que tentaram viajar. No sábado, apesar da retomada dos vôos, os aeroportos do país foram palco de invasão de avião por passageiros em Brasília e até da morte do gaúcho Luiz Fernando Ferrari Mosca, que dormiu no Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. Fora as filas intermináveis. Alertado, Lula anunciou uma "solução definitiva".
- Esse é um problema meu, do ministro da Defesa, dos controladores de vôo e da sociedade, que não pode ser vítima de determinadas condutas - disse o presidente, em Washington, EUA.- Vou conversar na segunda-feira com o ministro da Defesa, Waldir Pires, com o vice José Alencar, e vamos encontrar uma solução até terça-feira.
Convocado para negociar o fim do motim dos controladores, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que a tendência é a edição de uma medida provisória para desmilitarizar o controle aéreo. Segundo o ministro, a MP sairá em "questão de dias" e "conta com o apoio do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Juniti Saito". A FAB divulgou nota na qual comenta o acordo.
No texto, o comando da Aeronáutica "compreende a posição assumida pelo governo, em face da sensibilidade do assunto para os interesses do país, principalmente no tocante à garantia da tranqüilidade do público usuário de transporte aéreo".
Para o ministro Paulo Bernardo, o governo vai tentar proibir paralisações quando regulamentar o direito de greve dos servidores públicos. Não há previsão, no entanto, de quando isso deverá ocorrer.
- Não posso aceitar a idéia de que o comportamento de certas pessoas, por mais justas que sejam as reivindicações, possa deixar passageiros no aeroporto mais de oito horas - declarou Lula. - As pessoas que têm funções essenciais precisam ter mais responsabilidade.
Depois de participar de reunião de emergência convocada pelo ministro Waldir Pires - cuja demissão é pedida pelos comandantes das Forças Armadas - com o Alto Comando da Aeronáutica, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, fez um mea-culpa. Com discurso de passageiro, reconheceu que um semestre era tempo mais do que suficiente para o governo acabar com a crise.
- Eu não diria que houve falha do governo, mas um problema de timing. O tempo de reação não foi correspondente ao tempo da ação - disse Pereira. - É como dirigir um automóvel. Quando a gente não freia, bate. Nós freamos a tempo, porque graças a Deus não houve mortos nem feridos.
Não entram na conta do brigadeiro os 154 passageiros da Gol mortos em setembro, na tragédia que serviu de estopim e cuja apuração está por trás da conflagração dos controladores. Nem do passageiro, na manhã de ontem, no terminal paranaense. Pereira disse que a situação só será normalizada terça-feira.
- A malha aérea foi destruída. Hoje, temos atrasos que variam de 28 horas a 20 minutos - declarou Pereira.
Segundo o brigadeiro, 1.200 vôos foram cancelados entre sexta-feira e sábado. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estima que 18 mil passageiros foram prejudicados. O retrato numérico levou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a emitir nota na qual diz que "a cidadania está no escuro" e cobra a instalação da CPI do Apagão Aéreo. "A crise dos controladores deixa claro que há uma caixa-preta voando desgovernada no espaço aéreo brasileiro, cujo pouso no solo da transparência é inadiável."
