Em uma conferência realizada em Abu Dhabi, o embaixador dos EUA na Turquia, Tom Barrack, afirmou que Ancara está avançando na eliminação de seus sistemas de defesa aérea S-400 de origem russa. O diplomata declarou que a Turquia havia resolvido os problemas de operacionalidade do sistema, embora tenha ressaltado que sua mera posse continua sendo um ponto de conflito para Washington.
“Acredito que esses problemas serão resolvidos nos próximos quatro a seis meses”, afirmou Barrack. Ao ser questionado se a Turquia está prestes a se desfazer do sistema, respondeu: “Sim”.

A disputa pelo S-400 e o retorno ao F-35
A aquisição do S-400 há quase uma década resultou na exclusão da Turquia do programa F-35 Joint Strike Fighter em 2019. Os EUA também aplicaram sanções contra empresas de defesa turcas sob a lei CAATSA. Washington argumentou que o sistema russo poderia comprometer as capacidades furtivas do F-35, enquanto Ancara sustentou que os S-400 não seriam integrados à arquitetura da OTAN.
Apesar de sua saída do programa, a Turquia havia pago aproximadamente USD 1,4 bilhão pela compra de 100 unidades do F-35, valores que não foram reembolsados pelos EUA.

Em setembro deste ano, o presidente norte-americano Donald Trump afirmou, após se reunir com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, que a Turquia poderia estar aberta a retomar a compra dos F-35, acrescentando que Erdoğan “faria algo pelos Estados Unidos”, sem fornecer detalhes adicionais.
Tentativas de recompor as relações dentro da OTAN
Os EUA e a Turquia possuem dois dos maiores exércitos da OTAN. Resolver a disputa em torno do S-400 e do F-35 é visto como um passo para reduzir tensões dentro da aliança. Ancara, por sua vez, busca equilibrar sua relação com a Rússia, um fornecedor-chave de gás e petróleo, o que adiciona complexidade ao processo diplomático.
Nos últimos anos, diferentes atores políticos turcos manifestaram publicamente a necessidade de abandonar os S-400 para normalizar as relações com Washington. O ex-ministro de Estado Cavit Caglar declarou: “Se eu estivesse no comando, retiraria os S-400 da Turquia (…) Precisamos encontrar uma saída. Temos boas relações com a Rússia; a melhor maneira de proceder é negociar e explicar que, como membro da OTAN, não podemos utilizar os S-400 contra a OTAN. Precisamos resolver essa questão rapidamente”.

Antecedentes de negociações e gestos de aproximação
Em meados de 2024, o ministro da Defesa Yaşar Güler indicou que havia uma mudança de postura norte-americana após o progresso do programa local de caças de quinta geração KAAN. Na Assembleia Nacional, afirmou: “Já temos seis F-35 lá (…) Agora que viram nosso progresso com o KAAN, sua postura parece estar mudando. Estão indicando que poderiam estar dispostos a entregá-los. Apresentamos novamente nossa oferta oficial para comprar o F-35”.
A Turquia havia planejado originalmente a compra de cem F-35A e participava do programa como parceira industrial, com dez empresas locais envolvidas. Em 2018, o primeiro F-35 destinado ao país realizou seu voo inaugural no Texas. A suspensão do contrato, após a aquisição dos S-400, impediu a entrega das aeronaves já pagas.
Declarações em outros fronts diplomáticos
Em sua conversa com a Bloomberg, Barrack também comentou sobre as tensões entre Turquia e Israel. Considerou que as declarações cruzadas entre Erdoğan e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu são “apenas retórica” e expressou confiança de que “Turquia e Israel encontrarão sua relação em algum ponto”.

No entanto, ambos os governos mantêm fortes divergências quanto à situação em Gaza. Desde outubro de 2023, Erdoğan acusou repetidamente Israel de cometer “um genocídio completo”, enquanto Netanyahu criticou publicamente a postura turca. Segundo dados divulgados pelo gabinete de imprensa do governo de Gaza, mais de 70.000 pessoas morreram e cerca de 171.000 ficaram feridas desde o início do conflito.
Um possível giro na política de defesa turca
As declarações recentes de autoridades norte-americanas e turcas apontam para um cenário no qual Ancara poderia ceder os S-400 como condição para reingressar no programa F-35. Caso esse passo se confirme, representaria uma mudança significativa na política de aquisições de defesa turca e abriria caminho para recompor um dos vínculos estratégicos mais relevantes dentro da OTAN.
Imagens meramente ilustrativas.
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