A Força Aérea Brasileira (FAB) conduziu uma entrevista sobre o desenvolvimento e o progresso de seu programa de caça F-39, compartilhando informações valiosas sobre a integração do Gripen E/F em sua frota de combate. Essas informações podem ser de vital interesse para a Colômbia, sua nova usuária, e também para o Peru, que está prestes a decidir o vencedor da competição para seu novo caça, da qual participa a marca sueca Saab.

Quais foram os principais fatores que levaram o Brasil a escolher o Gripen em detrimento de outras opções, como o F-16?

É importante destacar que o F-16 não fez parte da lista de aeronaves finalistas no processo de seleção do novo caça da Força Aérea Brasileira (FAB). A lista final incluía o Saab Gripen da Suécia, o Boeing F/A-18 Super Hornet dos Estados Unidos e o Dassault Rafale da França. Nesse contexto, o Brasil escolheu o Saab Gripen E/F para o programa F-X2 da Força Aérea Brasileira (FAB) por vários motivos, incluindo a transferência de tecnologia, já que a Saab estava comprometida em promover um amplo programa de transferência de tecnologia, permitindo que a indústria brasileira participasse ativamente do desenvolvimento e da produção da aeronave. Da mesma forma, a capacidade operacional, porque o Gripen E/F é uma aeronave moderna, com eletrônica avançada, capacidade de guerra centrada em rede e integração com várias armas. E uma parceria estratégica de longo prazo, já que o acordo com a Saab conta com a participação da Embraer e de outras empresas brasileiras, promovendo o desenvolvimento da indústria nacional.

Como foi sua experiência no processo de transferência de tecnologia com a Saab?

A experiência tem sido muito positiva, com mais de 350 engenheiros e técnicos brasileiros participando de treinamentos na Suécia e colaborando diretamente no desenvolvimento do Gripen. A Saab e as empresas beneficiárias estabeleceram parcerias para produção local e adaptação da aeronave às necessidades da FAB. Esse processo fortaleceu o conhecimento brasileiro em tecnologia aeronáutica e de defesa.

Como o modelo de cooperação com a Saab fortaleceu sua capacidade de desenvolver futuros projetos de defesa?

Esse modelo de cooperação permitiu ao Brasil adquirir conhecimento estratégico moderno em projeto, produção e integração de sistemas de combate. Isso criou uma base sólida para projetos futuros, como o desenvolvimento de novas aeronaves, drones e o desenvolvimento do próprio Gripen. As empresas beneficiárias aproveitarão esse aprendizado para fortalecer sua posição no setor de defesa, expandindo suas capacidades de desenvolvimento, produção e suporte, e aumentando sua competitividade no mercado.

Houve algum desafio na integração do Gripen com outros sistemas de defesa brasileiros?

A integração do Gripen aos sistemas de defesa brasileiros é um processo contínuo, conduzido em parceria entre Saab, Embraer e outras empresas brasileiras, garantindo que a aeronave opere plenamente dentro do ecossistema estratégico da FAB. O trabalho inclui a adaptação de sistemas de comando, controle e comunicação, bem como integração com armas e sensores nacionais. Como em qualquer grande projeto de tecnologia, há desafios, mas soluções estão sendo implementadas para garantir a interoperabilidade ideal. Já em operação no Brasil, o Gripen também participou de missões e treinamentos, demonstrando excelente adaptabilidade ao ambiente operacional brasileiro, reforçando seu papel como um caça moderno e eficiente para a defesa nacional.

Desde que entrou para a FAB, como o Gripen tem se saído em termos de eficiência operacional e manutenção?

Quando o governo brasileiro, por meio de análise e orientação da FAB, decidiu adquirir o Gripen, já era possível imaginar que o sistema seria desenvolvido como um conceito totalmente voltado para a eficiência operacional. E quando a FAB analisou essa eficiência, toda a estrutura e componentes da plataforma de armas também foram verificados, não apenas a aeronave em si. No campo operacional, essa estrutura inclui simuladores de voo, sistemas de tecnologia da informação desenvolvidos para dar suporte ao treinamento de pilotos e diversas estações que dão suporte ao planejamento de missões. Esses sistemas abrangem não apenas o planejamento de rotas de voo, mas também comunicações, vinculação de dados criptográficos, dados relevantes, configuração de armas e configuração de testes de sistemas de guerra eletrônica. É um sistema bastante complexo, como exigem os cenários atuais, e desenvolvido de forma a facilitar a utilização pelo operador. Prova disso é o efetivo treinamento de todo o efetivo militar envolvido e os excelentes resultados obtidos nos treinamentos e exercícios operacionais, que ainda se encontram numa fase bastante inicial de implementação do projeto. Na área de logística, existem excelentes sistemas que auxiliam os gestores no controle e agendamento de inspeções de frotas, que também fornecem orientações para analisar e solucionar panes inesperadas. Tudo isso está abrigado em uma infraestrutura de suporte que inclui hangares e escritórios especialmente equipados para dar suporte às operações. Com a ajuda da Saab, também foi possível atingir altos níveis de disponibilidade nos principais eventos programados para a participação do Gripen.

Em comparação com outros caças que o Brasil operou anteriormente, quais vantagens o Gripen demonstrou em exercícios ou missões reais?

Comparar os F-39 com outros caças já em operação no Brasil não é viável porque os F-5M, excelentes aeronaves modernizadas no início dos anos 2000, são um projeto do final da década de 1950. Em outras palavras, não é possível comparar sistemas e aeronaves com quase 60 anos de diferença. Nessas seis décadas, a engenharia aeronáutica, de software e de produção evoluíram significativamente. E como resultado dessa evolução do sistema, o Gripen agora é uma aeronave verdadeiramente de última geração. Quanto à tecnologia de bordo, sensores, computadores e, tão importante quanto a tecnologia aeronáutica, a tecnologia e o desempenho de novas armas. O governo brasileiro também investiu significativamente nas armas e sensores do F-39. O resultado de tudo isso é uma diferença muito significativa, incomparável com as capacidades da FAB até então. As vantagens de desempenho são impressionantes, já que o Gripen é uma aeronave Classe 9G, capaz de realizar curvas muito fechadas e manobras muito rápidas, além de possuir um sistema de controle de voo totalmente “fly-by-wire” altamente eficiente. Ou seja, os pilotos do Gripen não operam em nenhuma das superfícies de controle da aeronave; Os “inputs” são dados e os computadores atuam com alto desempenho para garantir a execução precisa da manobra planejada. Isso também melhora a segurança operacional, já que todo o controle dos limites estruturais é realizado pela aeronave. Portanto, os pilotos não precisam se preocupar em exceder os limites estruturais de velocidade, carga G ou ângulo de ataque. A boa autonomia também é notável, o que se traduz num aumento do alcance e da autonomia. Em outras palavras, com o F-39, a FAB pode projetar seu poder aeroespacial em distâncias maiores e por períodos mais longos. Além disso, sistemas táticos, como radares RWR e IRST, e armas, são mais modernos e eficazes do que os usados ​​anteriormente. A maior parte dessas capacidades foi verificada e testada durante o principal exercício operacional da FAB, o Exercício Internacional Cruzeiro do Sul (CRUZEX 2024), realizado em Natal, no Rio Grande do Norte, no final do ano passado. Apesar de operar em um ambiente controlado, com regras pré-estabelecidas pela direção do exercício, os F-39 demonstraram as vantagens do sistema Gripen em um curto período de operação no Brasil. Durante a CRUZEX 2024, todos os recursos mencionados acima foram testados e sua eficiência demonstrada. O desempenho e os resultados operacionais do Gripen foram realmente surpreendentes.

Como tem sido a interoperabilidade do Gripen com outras aeronaves e sistemas de defesa brasileiros?

Como o F-39 Gripen opera na mesma base aérea do Segundo Esquadrão do Sexto Grupo de Aviação (2°/6° GAV – Esquadrão Guardião), que realiza missões de controle de voo e alarme com o E-99, e também do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa (1° GTT – Esquadrão Zeus), que opera o KC-390 Millennium, o 1° GDA tem realizado algumas missões conjuntas com essas aeronaves. Adicionalmente, como parte do treinamento para a CRUZEX 2024, foi realizado um treinamento de combate BVR (Beyond Visual Range) com aeronaves F-5M do Primeiro Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA – Esquadrão Senta Púa) e do Primeiro Esquadrão do Décimo Quarto Grupo de Aviação (1º/14º GAV – Esquadrão Pampa). Durante essas interações, o Gripen demonstrou boa adaptabilidade aos cenários já treinados e utilizados pelos comandantes seniores. Há uma forte crença de que a interoperabilidade do sistema Gripen com outros vetores da FAB será natural e bastante vantajosa.

Que tipos de missões já foram realizadas com o Gripen e quais são os planos futuros para seu uso?

Até o momento, o Esquadrão Jaguar que opera o Gripen está focado em missões ar-ar, ou seja, aquelas voltadas para a defesa aeroespacial, que incluem combate aéreo, interceptação e outras habilidades voltadas à identificação e neutralização de ameaças aéreas, seja em missões simples e isoladas, seja em missões compostas de alta complexidade, como as treinadas na CRUZEX 2024. Futuramente, pretende-se retornar ao emprego ar-solo, que inclui o uso de bombas, por exemplo, bem como o emprego da aeronave em missões de reconhecimento e outras ações direcionadas à superfície, tanto em terra quanto no mar.

Como está sendo realizado o treinamento de pilotos e pessoal técnico para operar e manter esses novos caças?

Em relação ao treinamento de pilotos, aqueles que seriam os primeiros pilotos do Gripen da 1ª GDA foram enviados à Suécia para passar por um treinamento inicial nas aeronaves Gripen C e Gripen D, que são as versões monoposto e biposto do modelo anterior à nova aeronave brasileira, e que foram bastante úteis para a familiarização com o “Gripen Concept”. Após a conclusão deste curso de familiarização, foi concluída a conversão para o Gripen E, versão monoposto da aeronave. Toda essa preparação para esse novo sistema foi realizada utilizando o simulador de voo e outras ferramentas de apoio ao treinamento, já que o Gripen F, na versão biplace adquirida pela FAB, ainda não havia sido recebido. Durante os dois primeiros anos, a FAB contou ainda com o apoio e assistência de dois pilotos suecos da Saab, instrutores do F-39. Esses instrutores eram responsáveis ​​pelo treinamento inicial na nova aeronave brasileira. Nas fases seguintes, já em 2024, a 1ª GDA concluiu o treinamento do primeiro piloto do Gripen E, que nunca havia pilotado uma aeronave Gripen de dois lugares antes. Ele é um piloto experiente de F-5M que passou por todo o processo de conversão na Base Aérea de Anápolis (BAAN) sob a supervisão do 1º GDA. Este marco significou muito, não apenas para a Unidade Aérea, mas para toda a Força Aérea Brasileira, pois representou um grande salto do Brasil em direção à independência e autonomia no treinamento operacional do F-39. Esse piloto já concluiu todo o seu treinamento e agora está realizando missões operacionais no Primeiro Grupo de Defesa Aérea. Situação semelhante é observada na área de logística, onde os primeiros mecânicos do Gripen foram treinados na Suécia entre 2022 e 2023. Atualmente, esses profissionais estão em treinamento no Brasil. Em abril do ano passado, a FAB concluiu com sucesso o primeiro curso de mecânica do F-39, realizado em Anápolis. O curso contou com a participação de mecânicos do Grupo Logístico BAAN, além de representantes dos Parques de Material Aeronáutico de São Paulo (SP) e Lagoa Santa (MG), que também realizam serviços de manutenção em sistemas do F-39.

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