A possibilidade de que a Marinha do Exército de Libertação Popular da China (PLAN) opte por equipar seu próximo porta-aviões com um sistema de propulsão nuclear volta a ganhar relevância. Analistas indicam que o país poderia estar avançando rumo à adoção dessa tecnologia de propulsão para seus futuros navios capitais, enquanto sua crescente frota de superfície amplia sua presença no Pacífico.

A República Popular da China mantém atualmente a marinha mais numerosa do mundo, com mais de 370 navios e submarinos, segundo o próprio Pentágono. Entre eles estão três porta-aviões, todos de propulsão convencional. O mais recente, o Tipo 003 Fujian, foi colocado em serviço em novembro durante uma cerimônia presidida por Xi Jinping, em linha com os objetivos estabelecidos de construir forças armadas de “classe mundial”.

Fujian – Marinha do Exército de Libertação Popular da China

Diferentemente dos Estados Unidos, que operam onze porta-aviões nucleares, os modelos chineses precisam reabastecer combustível com frequência, o que limita seu alcance, mobilidade e autonomia. Já os porta-aviões norte-americanos necessitam apenas de uma recarga de reator durante toda sua vida útil, estimada em 50 anos.

Projeção estratégica

O papel dos porta-aviões como plataformas de projeção marítima adquiriu especial importância para Pequim. Nos últimos meses, aumentou a frequência de seus desdobramentos, incluindo uma operação dupla no Pacífico Ocidental que demonstrou uma crescente capacidade de projeção além de suas águas imediatas.

Por exemplo, no final de junho deste ano, os porta-aviões Liaoning (CV-16) e Shandong (CV-17) realizaram uma série de exercícios, incluindo simulações de confrontos entre si. Os exercícios fizeram parte do mais recente desdobramento de ambas as unidades no Pacífico Ocidental. Também chama atenção que esta atividade, que contou com amplo volume de caças e pessoal, foi conduzida logo após a conclusão de outros exercícios envolvendo os mesmos navios.

Além disso, um desses exercícios ocorreu fora da “primeira cadeia de ilhas”. Na ocasião, segundo declarou o porta-voz da instituição, o capitão de mar e guerra Wang Xuemeng, o objetivo era testar a capacidade dos dois navios de operar em mares distantes e como parte de operações conjuntas.

Para dar mais um exemplo dos intensos e regulares exercícios navais em alto-mar realizados pelos porta-aviões chineses na região, vale lembrar que, em setembro de 2024, a China desdobrou simultaneamente seus três porta-aviões: o Liaoning, o Shandong e o (ainda não oficialmente incorporado na época) Fujian.

No contexto dessa constante presença e demonstração de poder militar por parte de Pequim na região, o porta-voz da embaixada chinesa em Washington, Liu Pengyu, afirmou: “O desenvolvimento futuro dos porta-aviões da China será considerado de maneira integral com base nas necessidades de defesa nacional”, acrescentando que a política de defesa do país continuará sendo “defensiva”.

Por outro lado, o analista Kitsch Liao, do Atlantic Council, explicou que, se o objetivo da China é disputar a influência militar dos EUA além do Leste Asiático, “os porta-aviões de propulsão nuclear seriam uma peça importante do quebra-cabeça”. No entanto, observou que o país precisa primeiro consolidar uma força convencional capaz de manter uma presença “coesa” a leste de Taiwan.

Fujian – Marinha do Exército de Libertação Popular da China

Em caso de um conflito pela ilha, a presença de porta-aviões chineses no Mar das Filipinas poderia complicar uma intervenção americana.

O especialista Collin Koh, do Institute of Defense and Strategic Studies de Singapura, afirmou que o foco da marinha chinesa se deslocou para a projeção em “mares distantes”, o que torna a propulsão nuclear coerente com essa estratégia. A adoção de catapultas eletromagnéticas — de alto consumo energético — reforçaria essa necessidade.

Por que Collin Koh menciona que a propulsão nuclear é “coerente”, enquanto Kitsch Liao destaca que primeiro é necessário “consolidar a força convencional”? Uma possível resposta pode ser encontrada nos mísseis hipersônicos que a China vem desenvolvendo e produzindo. A estratégia poderia ser que os três porta-aviões atualmente operativos se concentrem na área até a primeira cadeia de ilhas, garantindo a retaguarda junto com os mísseis posicionados na costa, enquanto os futuros porta-aviões de propulsão nuclear teriam o objetivo de operar além da primeira cadeia de ilhas.

A tecnologia chinesa avançou muito rapidamente nos últimos anos. Os porta-aviões Liaoning e Shandong são de design soviético (Almirante Kuznetsov), mas modernizados para as necessidades atuais da China. Depois, Pequim passou a projetar seu próprio porta-aviões, dando origem ao Fujian, que além de ser 100% de design chinês, já conta com catapultas eletromagnéticas.

Possível início da construção do quarto porta-aviões da China, o Tipo 004

Levando isso em consideração, não seria estranho pensar que o próximo passo seja o design, desenvolvimento e produção de porta-aviões com propulsão nuclear.

Desafios para a propulsão nuclear

Embora a propulsão nuclear ofereça energia sustentada para operações de alta intensidade, nem todos os analistas a consideram determinante. Um observador militar chinês afirmou que “o apoio logístico necessário para uma marinha global excede amplamente as demandas de combustível do porta-aviões”. Ele também destacou que os navios escolta, aeronaves embarcadas e helicópteros continuariam exigindo grandes quantidades de combustível convencional.

Embora a China esteja ampliando sua presença militar no Indo-Pacífico, ainda não possui uma rede logística comparável à dos Estados Unidos. A Marinha norte-americana pode se reabastecer em territórios aliados, o que permite manter operações prolongadas.

No caso da China, conta apenas com a Base de Apoio do Exército de Libertação Popular em Djibuti (Chifre da África), a única base militar estrangeira chinesa com um porto capaz de reabastecer tanto navios quanto os veículos embarcados (dado que a Base Naval de Ream, no Camboja, não é própria; foi apenas financiada por Pequim, que tem um acordo de defesa com o país). Está claro que, se a China busca rivalizar a longo prazo com os EUA pelos oceanos do mundo, além da construção de porta-aviões nucleares, deverá paralelamente desenvolver bases em outros pontos estratégicos, com portos de águas profundas.

Base Militar do “Exército de Libertação Popular da China” no Djibuti (à esquerda) e Base Naval de Ream no Camboja (à direita)

Collin Koh advertiu que incorporar reatores nucleares em porta-aviões implicaria desafios técnicos e de segurança, já que seria a primeira vez que a China instalaria essa tecnologia em um grande navio de superfície. Liao acrescentou que a capacitação de pessoal especializado também representa um obstáculo: a China opera 12 submarinos nucleares, um número reduzido em comparação com EUA e Rússia, o que impactaria no treinamento de futuros tripulantes.

Avanços do Tipo 004?

Embora não exista nenhum comunicado oficial de Pequim, desde julho de 2024 a Zona Militar já adiantava que a China poderia estar desenvolvendo seu quarto porta-aviões. Em 2025, o que se destacou foram imagens de satélite divulgadas em fevereiro, mostrando possíveis detalhes de sua fabricação, características e capacidades.

Posteriormente, em outubro, novas imagens (também não oficiais) foram divulgadas, embora sem permitir identificar detalhes específicos de sua estrutura. Entretanto, analistas indicam que o ritmo de atividade na área sugere um avanço contínuo na construção daquela que poderia ser a próxima grande unidade da frota chinesa.

Possível início da construção do quarto porta-aviões da China, o Tipo 004

Conclusão

Embora ainda não haja informação oficial por parte da China sobre a construção de um quarto porta-aviões — e menos ainda de que este seria de propulsão nuclear —, é importante antecipar que essa possibilidade está longe de ser improvável. Desde que o atual presidente, Xi Jinping, assumiu o cargo em 2014, a política externa da China mudou profundamente. Até então, seguia-se o conceito “KLP” (Keep a Low Profile – manter um perfil baixo), mas desde então Pequim tem demonstrado suas ambições de se tornar o hegemon regional em um primeiro momento, e possivelmente disputar a hegemonia global com os EUA.

Imagens meramente ilustrativas.

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