Embora a Força Aérea da Ucrânia venha avançando na incorporação de aeronaves de combate de origem ocidental, como os F-16 e Mirage 2000-5, Kiev tem considerado outras alternativas para aprofundar essa transição rumo a plataformas aéreas mais modernas. Durante o dia de hoje, no âmbito da visita oficial do presidente Volodymyr Zelenskyy à Suécia, o país deu o primeiro passo nessa direção com a assinatura de uma Carta de Intenção para a aquisição de até 150 caças JAS 39 Gripen E — o primeiro marco formal alcançado por ambos os governos, precedido por estudos e avaliações anteriores.

O interesse da Ucrânia pelos Gripen produzidos pela Saab não é novo. As qualidades do caça sueco são amplamente reconhecidas por diversos operadores, destacando-se sua ampla compatibilidade com armamentos de origem norte-americana e europeia, bem como sua capacidade de operar em ambientes austeros e com manutenção mínima — algo demonstrado em várias operações e treinamentos nos quais as aeronaves são vistas operando a partir de rodovias e estradas no norte da Europa.

No entanto, o interesse ucraniano pelos Gripen, manifestado nos últimos meses, vinha sendo contraposto pela postura cautelosa e prudente de Estocolmo, que, embora tenha solicitado estudos à Força Aérea Sueca para avaliar a viabilidade da transferência, indicou que esta só poderia se concretizar após o fim do conflito.

A cautela expressa até o momento, bem como a assinatura da recente Carta de Intenção, baseiam-se em algumas considerações. A principal delas é que a Suécia não pretende reduzir suas próprias capacidades aéreas no atual contexto de tensões com a Rússia, especialmente diante do aumento de seus compromissos de defesa na Europa após sua entrada na OTAN.

Esse ponto é particularmente relevante, pois, com a confirmação anterior da transferência de aeronaves de Alerta Aéreo Antecipado e Controle (AEW&C) Saab 340 — designadas pela Força Aérea Sueca como S 100B Argus —, o governo sueco teve de encomendar à Saab unidades adicionais do mais moderno e capaz GlobalEye, atualmente em diversas fases de produção e aguardando a entrega das primeiras aeronaves.

Além disso, é importante destacar que a Ucrânia está destinando recursos humanos significativos à formação de pilotos e tripulações para operar os F-16 que estão sendo transferidos pelos aliados ocidentais. Já foi confirmada a entrega de caças provenientes da Dinamarca, dos Países Baixos e da Noruega, e a Bélgica poderá se somar em breve, após a chegada de seus primeiros F-35 há poucos dias.

Também vale mencionar que a França está fornecendo à Ucrânia seus caças Mirage 2000-5, com a previsão de transferência de até vinte unidades provenientes de esquadrões desativados da Força Aérea e Espacial francesa.

Apesar disso, a Carta de Intenção estabelece as bases para aprofundar a parceria e a cooperação entre Ucrânia e Suécia, iniciando as negociações formais para, futuramente, concretizar o fornecimento de entre cem (100) e cento e cinquenta (150) caças Gripen E. Isso é particularmente significativo, já que ontem a Força Aérea da Suécia celebrou a incorporação do primeiro de seus novos sessenta (60) Gripen E, o que também pode abrir a possibilidade de transferência das versões C/D atualmente em serviço, como parte do processo de transição para a nova plataforma.

No âmbito das declarações oficiais após a assinatura dos documentos, o primeiro-ministro da Suécia afirmou: “Tenho orgulho de ter recebido o presidente Zelenskyy na Suécia e em Linköping. Hoje assinamos uma importante Carta de Intenção, que marca um passo rumo a um possível acordo de exportação de grande magnitude envolvendo o Gripen — provavelmente entre 100 e 150 caças —, com o objetivo de construir uma nova e poderosa Força Aérea Ucraniana. O presidente Zelenskyy também teve a oportunidade de ver de perto as impressionantes capacidades do caça Gripen. Isso fortalecerá tanto a Ucrânia quanto a Suécia e a Europa.”

Por sua vez, o presidente ucraniano declarou: “Hoje temos o primeiro documento assinado entre nossos países, que abre o caminho para que a Ucrânia adquira uma importante frota de caças fabricados na Suécia — os Gripen. São aeronaves excelentes, plataformas aéreas robustas capazes de realizar uma ampla gama de missões. Todos podem ver as ameaças que elas ajudam a enfrentar. Esperamos que o futuro contrato nos permita obter pelo menos 100 desses caças.”

Por fim, embora ainda não tenham sido divulgados mais detalhes, não é improvável que, pelas quantidades mencionadas no documento, estejamos diante da possibilidade de que a Ucrânia também se torne potencialmente o maior operador do novo Gripen E, que já tem como primeiro usuário a Força Aérea Brasileira e, desde ontem, também a própria Força Aérea Sueca. Outros países, como o Canadá, avaliam o caça sueco como complemento — e até mesmo como alternativa — ao norte-americano F-35.

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