No meio das preocupações dos líderes europeus sobre o compromisso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a defesa do continente, a França estaria avaliando a possibilidade de deslocar caças-bombardeiros Rafale da Força Aérea e do Espaço francesa equipados com armamento nuclear para a Alemanha, buscando assim enviar uma forte mensagem de dissuasão com foco na Rússia. A novidade surge praticamente ao mesmo tempo em que o recém-eleito chanceler alemão, Friedrich Merz, faz apelos para que os parceiros europeus compartilhem suas capacidades nucleares.

A informação foi divulgada em um relatório elaborado pela publicação britânica The Telegraph, que cita funcionários franceses que falaram sob condição de anonimato sobre o assunto, afirmando que: “O deslocamento de alguns caças-bombardeiros nucleares franceses para a Alemanha não deveria ser difícil e enviaria uma mensagem contundente.” Além disso, aponta-se que, em Berlim, há também aqueles que desejam que o Reino Unido se junte à iniciativa.
Trata-se de uma questão de grande relevância, considerando que, em recentes reuniões de alto nível, o governo dos EUA indicou que não estaria mais disposto a garantir a segurança europeia no âmbito da OTAN como tem sido até agora. Vale lembrar que se estima que Washington mantém uma rede na Europa com mais de uma centena de mísseis nucleares (boa parte deles na Alemanha), de modo que uma possível redução de sua presença na região teria um forte impacto no cenário estratégico.

Diante desse cenário, e com uma guerra na Ucrânia ainda em andamento, os líderes europeus se veem forçados a iniciar discussões delicadas sobre suas próprias estratégias de defesa. O presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido um dos mais proativos nesse sentido, como demonstrado pelas recentes reuniões realizadas com o próprio Donald Trump para apresentar seus planos para a defesa europeia. Nessa ocasião, foram notadas trocas de acusações sobre os gastos europeus em defesa, bem como divergências sobre o futuro da guerra na Ucrânia.
Por enquanto, é necessário destacar que o arsenal nuclear francês está atualmente sob o controle exclusivo de Paris, e não da OTAN, o que levanta discussões importantes sobre um possível deslocamento para a Alemanha.
Para o governo alemão do recém-eleito chanceler Merz, a questão é clara: não se pode mais dar como certa a proteção nuclear dos EUA. Refletindo suas preocupações em declarações recentes, o líder alemão afirmou: “Precisamos ter conversas tanto com os britânicos quanto com os franceses [NdE: as duas potências nucleares europeias] sobre se o compartilhamento nuclear ou, pelo menos, a segurança nuclear do Reino Unido e da França também poderia se aplicar a nós.” Ele acrescentou ainda que o presidente Trump é “indiferente ao destino da Europa”.

No Reino Unido, os relatos também indicam uma visão favorável ao possível deslocamento de armamento nuclear para a Alemanha caso os EUA decidam se retirar. O primeiro-ministro trabalhista Keir Starmer já demonstrou alinhamento com os vizinhos europeus nas negociações sobre uma solução para a guerra na Ucrânia, distanciando-se da postura de Trump, que é mais favorável à negociação com Moscou. Caso a França avance com o deslocamento de suas armas nucleares para a Alemanha, o relatório estima que o Reino Unido poderia ser pressionado a tomar medidas semelhantes.
Ao revisar as atuais capacidades nucleares do Reino Unido e da França, é importante mencionar que, segundo dados do SIPRI, os britânicos possuem cerca de 150 ogivas nucleares, enquanto os franceses dispõem de aproximadamente 300. No caso da França, há a capacidade de lançar essas armas tanto a partir dos caças Rafale armados com mísseis de longo alcance ASMP-A quanto de submarinos da Marinha Nacional, o que garante maior flexibilidade para um eventual deslocamento em comparação ao Reino Unido, cuja dissuasão se baseia exclusivamente em mísseis lançados por submarinos.

Ampliando a questão, veículos especializados indicam que os ativos nucleares franceses das Forças Aéreas Estratégicas (FAS) estão baseados na Base Aérea de Saint Dizier-Robinson, com instalações de armazenamento adicionais em Istres e Avord. Atualmente, a FAS conta com 50 caças-bombardeiros Rafale na versão B, apoiados por aeronaves Airbus A330 MRTT Phénix para reabastecimento aéreo.
No entanto, esses meios seriam insuficientes para oferecer o mesmo nível de proteção que a rede dos EUA ainda mantém ativa. Como parte daqueles que criticam a possível medida, o diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação de Cientistas Americanos, Hans Kristensen, afirmou: “A França e o Reino Unido já são membros nucleares da OTAN, e embora o arsenal francês seja oficialmente independente, é ilusório imaginar que a França permaneceria à margem de um conflito europeu que chegasse ao nível das armas nucleares (…) A França tem menos de 50 mísseis aéreos, e ‘oferecer’ seu deslocamento para a Alemanha levantaria imediatamente questões sobre a postura nuclear muito mais ampla na Europa.”

Por fim, um possível retiro do armamento nuclear dos EUA na Europa também levantaria questões sobre o próprio programa alemão de modernização de sua Força Aérea com caças furtivos F-35, visando torná-los aptos a utilizar as bombas B61 americanas armazenadas no território alemão. Atualmente, essa tarefa recai sobre os antigos aviões Tornado. Além disso, investimentos estão sendo feitos para aprimorar a Base Aérea de Büchel, incluindo renovações significativas nas pistas para torná-las adequadas à chegada das aeronaves de quinta geração. Preocupações semelhantes também surgiriam na Bélgica, Itália e nos Países Baixos.
Imagens utilizadas apenas para fins ilustrativos.
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